sexta-feira, 24 de abril de 2015

Capítulo 4 - A entrevista

A cena de Amélia segurando o soco de Marc foi fotografada por todos ao redor.
O lutador só conseguiu dizer:
–Amélia!
–Quanto tempo não?
–Sim. E o que a traz aqui?
–Bem, eu sou repórter da revista Super Sports. Você me concede a honra de entrevistá-lo?
Marc pensou rápido: “Ela só veio aqui para me entrevistar? Se eu disser não, ela vai embora”.
–Tudo bem. Pode ser agora. E eu pago o seu jantar.
–Não precisa disso.
–Ora, faço questão.
Marc seguiu seu caminho e Amélia foi atrás. O segurança, Erin, pediu desculpas ao garoto, que apenas respondeu:
–Não se preocupe! Ela é pequena e veloz. Você não a viu no meio dessa confusão.
Amélia pegou o seu cordão e escondeu-o por baixo da blusa.
Eles entraram no restaurante e Marc pediu mesa para dois, num lugar mais reservado. O pedido foi atendido. Sentaram-se e Amélia pegou o seu gravador e a folha com as perguntas.
O garçom veio anotar os pedidos. Marc pediu o seu preferido e a garota quis o mesmo. Então, o garçom saiu.
–Podemos começar? - disse Amélia, acionando o gravador
–Claro! Qual é a primeira pergunta?
–Hum... O que te inspirou a querer ser um lutador?
–Ora, o meu próprio pai. Desde que me entendo por mim, eu o vejo treinando. Se bem que agora ele ficou mais sedentário.
Ambos riram.
–E demorou muito para alcançar este sonho?
–Eu ainda não alcancei totalmente, mas já percorri boa parte do caminho.
–E quando vai completar?
–Quando conseguir um cinturão.
–Por que seu apelido é “Romano”?
–Sempre disseram que pareço com um, o apelido pegou na academia em que treinava e decidi adotar.
–Isto foi depois que eu sai?
–Foi.
–Ah, desculpe. Perdi o foco!
Marc sorriu e fez sinal para ela prosseguir.
–Conte um pouco da sua trajetória.
–Eu sempre treinei em pequenos lugares e com o meu pai. Por culpa dele tenho um salão só para isso na minha casa. Enfim, com 16 anos, entrei em um lugar e almejei o título de lá. Com ajuda de uma amiga, eu consegui, uma pena ela não ter visto a minha vitória. E o garoto que derrotei é meu amigo até hoje.
–Dessa parte não sabia.
A menina pediu desculpas de novo e foi a próxima pergunta.
–Até agora, você está invicto. Dizem que seu soco é indefendível. Acredita que isso seja verdade?
–Não. É a pior mentira que eu já ouvi. - direcionou o olhar para Amélia – Só existe uma pessoa capaz de defender meu soco e ela está bem na minha frente.
A repórter enrubreceu, abaixou a cabeça e comentou:
–Acho que não vou colocar essa parte.
–O que eu disse é mentira por acaso?
Marc esticou o braço e com a mão levantou o queixo de Amélia, fazendo-a olhar para ele.
–Eu só não acho pertinente.
–Não vou discutir. Só digo que todo mundo viu você segurando meu punho... Pode continuar. - voltou a posição que estava antes
–Posso fazer umas perguntas mais pessoais? Se incomoda?
–Nem um pouco.
–A sua família te apoia no que faz?
–Sim! Bem como disse antes, meu pai sempre me incentivou. A minha mãe é falecida, mas meu pai diz que ela teria orgulho de mim.
Amélia sorriu, meio sem graça com o que iria perguntar.
–E está solteiro, namorando...?
–Por que quer saber disso?
–O mundo quer saber.
–Estou solteiro. Pode parecer incrível, mas é isso mesmo.
–Imagino que não seja por falta de pretendente.
–Pois é, não me falta. Porém, eu dispenso todas, por conta de uma que eu não esqueci até hoje.
Amélia percebeu a indireta e se fez de sonsa. “Ele ainda gosta de mim”, pensou.
–Está apaixonado então?
–Sim!
E a comida deles finalmente chegou. Marc pediu um vinho, que logo foi servido.
Ao começarem a comer, ficou um silêncio que Marc teve que interromper:
–Continue.
–Ah, claro! Depois que ganhar o seu cinturão, vai ter algo mais a aspirar?
–Com certeza! Conseguir alguma coisa em outras ligas... Não sei. Só saberei quando chegar lá.
–Quer deixar alguma mensagem para os fãs?
–Eu tenho fãs? Até perco a noção disso. Só quero que continuem torcendo por mim e agradeço por tudo até agora.
–É isso então. Marc, agradeço pelo seu tempo e atenção.
–Você já vai?
–Não. Vou terminar de comer o jantar.
Eles riram. Marc disse:
–Pode apenas ser a Amélia agora?
–Claro, Marc.
A garota pegou o gravador e desligou-o. Continuaram a conversa:
–Agora eu quero saber o que aconteceu contigo. O que aconteceu na sua vida depois que me deixou daquele jeito. - falou cabisbaixo
–Eu terminei o ensino médio e fiz faculdade de jornalismo. Um mês atrás, fiz uma entrevista e fui chamada para trabalhar na revista. Comecei hoje.
–E a minha entrevista nessa história toda?
–Foi um desafio!
–Sua primeira reportagem? Que honra! - e riu
–É sim! E eu consegui uma coisa exclusiva.
–Convencida!
–Eu podia ter levado um soco.
–Desculpe, eu agi por instinto. Me assustei com o seu toque repentino.
–Minha sorte é que tenho reflexo.
Eles bateram um papo por um tempo, Amélia contou tudo o que fizera naqueles últimos anos e Marc também.
Ao saírem, os paparazzis ainda estavam lá e os seus flashes não paravam. Microfones se esticaram e perguntavam quem era aquela garota. O lutador apenas ignorou. Erin fez uma barreira para eles e Marc o deixou ir para casa em seguida.
Se dirigiram até o carro.
–Acho que eu vou daqui então. - disse ela
–Sozinha?
–É! Eu vim sozinha.
–Nada disso! Te dou uma carona.
–Não é necessário, Marc.
–Entra ou eu quebro seu gravador.
–Filho da puta! - reclamou ela com uma careta
–Não me xingue. - respondeu rindo
Entraram no carro e saíram.
–Ora, não fique com esta cara. Um reencontro destes, eu tenho que ser um cavalheiro.
Amélia sorriu.
Passaram o caminho conversando, a menina indicava o caminho. Demoraram um pouco para chegar. Marc parou o carro, desceu, abriu a porta para Amélia e ofereceu a mão para ajudá-la a sair.
–Nossa, eu não mereço tudo isso.
–Merece sim. Você é especial!
Amélia quase que se esconde de tanta vergonha. Ela deu um sorriso tímido.
–Ué, a luz do seu apartamento está acesa.
–A minha amiga deve estar acordada. Eu divido o apartamento com ela.
Mais um momento de silêncio, nenhum deles queria se despedir. Olhavam um para o outro. Marc acariciou o rosto de Amélia e indagou:
–Posso te dizer uma coisa?
–Fale, Marc.
–Eu fiquei desolado quando foi embora naquele dia, ainda mais depois do que fez ao se despedir de mim.
Amélia sabia bem do que se tratava.
–Eu agi sem pensar. Me culpo por isso até hoje.
–Não se martirize. Nada fez de errado.
Calaram-se novamente. A garota olhou as horas no relógio de pulso.
–Marc, já é tarde. Eu tenho que ir.
–Espera! - disse, segurando o braço dela.
Marc puxou Amélia para si e roubou um beijo dela. Essa era a sua resposta, anos atrasada. Foi um beijo calmo e muito carregado pelos sentimentos deles. Ao final, quando os lábios se separaram, Marc falou:
–Desculpe, eu agi sem pensar.
Amélia sorriu e beijou Marc.
–Promete que não vai me abandonar de novo? - ele questionou
–Eu prometo.
Ela iria subir, porém Marc a segurou outra vez. Tinha se esquecido.
–Pode me passar o seu telefone?
Ela abriu a bolsa, pegou um cartão de visita e entregou a ele.
–Qualquer coisa, sabe onde eu moro e trabalho.
Amélia subiu. Marc ficou ali alguns minutos, pensando no que acabara de acontecer.
Aquela cena do casal fora observada por Sarah, daquela janela com luz acesa.

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